sexta-feira, 26 de setembro de 2008

EsCoLa TéCnIcA - aLeMã - Parte 1

Com a emancipação política do Paraná em 1853, Curitiba foi escolhida como a capital da recém-criada província. Nessa condição, a cidade começou a propiciar muitas chances econômicas, passando a atrair imigrantes estabelecidos em outras regiões do Império. Durante as décadas de 1850 e 1860, Curitiba recebeu levas sucessivas de imigrantes, principalmente alemães, anteriormente fixados na Colônia Dona Francisca, em Santa Catarina. Desde sua chegada a Curitiba, esses imigrantes, principalmente os protestantes, começaram a se defrontar com certas barreiras que o discriminavam do ponto de vista religioso e social. Uma dessas questões estava relacionada com a educação de seus filhos.
No ano de 1866, logo após a fundação da Comunidade da Igreja Evangélica
Alemã, os imigrantes procuraram criar uma escola que atendesse adequadamente a educação de seus filhos. As primeiras letras deveriam ser ensinadas na língua alemã e a educação deveria ser dada segundo os preceitos da religião protestante.
A Escola Alemã que fôra criada com a finalidade declarada de preservar a religião, no transcorrer do tempo, começou a mudar a orientação filosófica, passando a incentivar de forma explícita a preservação dos valores da cultura alemã, enfim, do “espírito alemão”. Este sentimento era manifestado nos festejos e comemorações patrocinados pela escola. O ensino ministrado, traduzia a orientação filosófica da escola; os conteúdos das disciplinas eram impregnados do chamado espírito alemão.

Durante as décadas de 1850 e 1860 Curitiba recebeu levas sucessivas de imigrantes, principalmente alemães anteriormente fixados na colônia Dona Francisca na Província de Santa Catarina.
Além da falta de escolas públicas, outros fatores contribuíram para que esses imigrantes procurassem fundar seu próprio estabelecimento de ensino. A oposição ao credo evangélico no Brasil era marcante; este fato induziu essa comunidade a uma certa segregação social. Aos poucos passaram a organizar sua vida comunitária desvinculada da sociedade local.
Em 11 de dezembro de 1866 o Pastor Johan Friederich Gaertner solicitou ao inspetor geral da Instrução Pública, Ernesto Francisco de Lima Santos, licença para ensinar as primeiras letras em língua alemã, o que lhe foi concedido. Estava criada a Escola da Comunidade Alemã. Logo a seguir a escola foi fechada sob a alegação de que admitia alunos de ambos os sexos, entre eles alguns brasileiros católicos, contrariando os artigos 104 e 95 do Regulamento de 8 de abril de 1857.
Diante da insistência do pastor Gaertner, foi expedida uma nova licença especificando as condições para funcionamento da escola. Foi concedida “licença para lecionar as primeiras letras em alemão no rocio da cidade, a alunos alemães que professassem a religião protestante sendo proibido debaixo das penas do Regulamento receber meninas de qualquer religião e bem assim meninos que abraçassem a religião Católica Apostólica Romana”.
Em um abaixo-assinado enviado ao presidente da Província, em fevereiro de 1867, os alemães protestantes rejeitaram a decisão tomada pelo inspetor geral e argumentaram que as medidas tolhiam a liberdade de dar instrução aos filhos segundo à crença dos pais.
A escola, sob a denominação “Escola Alemã”, agora vinculada indistintamente a toda comunidade alemã radicada em Curitiba, passou por mudanças profundas. Houve renovação no corpo docente; a direção ficou com o professor Paul Issberner, vindo de Joinville, sendo que a comunidade era representada por um Conselho Escolar.
Sob a nova orientação, a Escola Alemã adotou a filosofia de incentivar, de forma explícita, a preservação dos valores da cultura alemã, enfim, o “espírito alemão”.
O primeiro aniversário da desvinculação da Escola da Igreja (Evangélica) foi amplamente festejado, com um desfile, de aproximadamente 200 crianças, pelas ruas da cidade. O desfile foi acompanhado de banda de música e assistido por um grande número de pessoas. Nessa ocasião os sentimentos de manutenção da identidade étnica/nacional da comunidade foram manifestos com muito entusiasmo.
Na mesma ocasião, comentando os festejos, o professor Issberner reafirmou os princípios que regiam o ensino ali ministrado: “Aqui os pais podem reconhecer que na Escola Alemã, além do aprendizado normal, tem-se o cuidado com a preservação das tradições, o que é, para nós, alemães, motivo de orgulho”.

O ensino ministrado na Escola traduzia essa filosofia. Os livros didáticos adotados eram publicados na Alemanha, e posteriormente em Porto Alegre, especialmente elaborados para as escolas alemãs no Brasil. Muito embora o plano de estudos pudesse ser considerado modesto incluindo apenas: leitura, escrita e gramática alemã português, matemática, canto, geografia e religião cristã, o enfoque do conteúdo visava à manutenção do “espírito alemão”. O ensino da gramática alemã, por exemplo, integrava diferentes conteúdos e era realizado, principalmente, através de contos que ressaltavam os valores da cultura alemã e de textos versando sobre o modo de vida alemão, sua história e geografia. Por exemplo, a fé em Deus dos germânicos; os turcos em Viena; o Reno; o massacre de Leipzig; o menino desobediente; os velhos alemães; nem tudo que reluz é ouro; Henrique I; a guerra franco-germânica; a terra dos antigos alemães, além de outros.

Nenhum comentário: